domingo, 27 de outubro de 2013

Afetividade e cuidado



Ontem, sábado,  fomos ao encontro do grupo de adoção em Indaiatuba e o tema era: “Motivação para a adoção e devolução” pela psicanalista Maria Luíza Ghirardi. Isso mesmo: devolução. A psicanalista acima citada é especialista no assunto, atende casais que desejam devolver crianças que foram adotadas. Antes de qualquer coisa é importante ressaltar que não é permitido devolver uma criança adotada, depois de efetivada a adoção ela se torna irrevogável, mesmo assim acontecem casos de devolução, o que acaba gerando um segundo trauma na criança, e também no casal adotante. A palestra começou com uma análise sobre quais são as motivações de uma adoção e compara esse momento de discernimento pré-adoção ao período de gestação. A um período de gestação consciente, refletido, ela usa o conceito ninho-mental para essa preparação e reflexão sobre quais são as verdadeiras motivações, motivos, ou desejos que levam os casais a adotarem. São vários os motivos, infertilidade, filantropia, tudo depende muito da história dos adotantes, do seu passado da sua maneira de ver a realidade e as relações entre as pessoas e da disposição de ter um filho. Quando se trata de devolução ela ressalta que o principal motivo de devolução é a incompatibilidade que há entre o filho idealizado pelos casais e o filho real adotado, daí a importância de se fazer esse processo reflexivo e gestacional sobre quais são as verdadeiras motivações que levam o indivíduo a adotar, pensar que a vida do casal vai mudar com uma nova vida dividindo espaços, afetos, desafetos, seu dinheiro, seu tempo, atenção. A devolução só acontece nos casos de adoção, no entanto, podem-se observar muitos casos de abandono, ou seja, tal problema aqui discutido não acontece somente com a adoção, muitos pais abandonam seus filhos, obviamente nos casos mais complicados essas crianças se tornam disponíveis para a adoção, no entanto, minha breve experiência de educador me proporcionou várias experiências de abandonos de filhos dentro da própria casa. Percebo que as pessoas atualmente veem as relações que estabelecem uns com os outros como as mercadorias que consomem, não só nos casos de filiação, mas em todas as relações, usa-se o outro para satisfazer os desejos e depois descarta. Chamo isso de "reificação do ser humano”, é dar ao outro um status de coisa, é esvaziar suas referencias humanas, afetivas, sua identidade. Há que se resgatarem as relações afetivas verdadeiras de cuidado, cultivo, nossas relações são construídas e precisam ser cultivadas cuidadas, cotidianamente, para produzirmos uma cultura de afetividade verdadeira e deixarmos um legado positivo.

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